Lei da oferta e demanda: Por que seu diploma, vale menos do que você imagina?
A lei de oferta e demanda é um dos conceitos mais simples da economia, em essência ela afirma algo direto quanto maior a oferta de algo e menor a procura por isso menor será seu valor e o inverso também é verdadeiro quando algo é escasso e muito desejado seu valor sobe.
Essa lógica não se aplica apenas a produtos ou serviços, mas a qualquer mercado no geral, assim como ao valor das profissões das habilidades e do conhecimento humano.
O mercado de trabalho funciona como qualquer outro mercado
Eu ouço muito sobre oferta e demanda na TV e notícias, falando sobre imóveis, carros, eletrônicos e referências do tipo, mas o mercado de trabalho opera da mesma forma.
A oferta é a quantidade de profissionais disponíveis com determinada formação ou habilidade. A demanda é a quantidade de problemas reais que precisam ser resolvidos por essas pessoas.
O “preço” nesse mercado não aparece apenas como salário. Ele se manifesta em prestígio, poder de negociação, estabilidade e oportunidades e isso indica que quando muita gente possui as mesmas qualificações, o mercado simplesmente não tem razão econômica para pagar bem por isso, então o diploma deixa de ser um diferencial e vira apenas um requisito básico de entrada. Entenda esse conceito: Se o que você faz, todo mundo faz, então ele não vale tanto assim, é assim que as coisas funcionam.
Esse padrão não é novo, ele aconteceu com engenharias tradicionais, está acontecendo com tecnologia e vai se repetir com a próxima área que estiver na moda. Pra ilustrar, vou definir isso em fases.
Fase 1: Escassez e valorização
Durante décadas, engenheiros civis, mecânicos e elétricistas foram profissionais raros, já que poucas universidades ofereciam esses cursos, a formação era longa e rigorosa, as taxas de reprovação eram altas e a demanda por infraestrutura, indústria e energia era enorme, então o mercado precisava desesperadamente desses profissionais e não havia oferta suficiente. O resultado disso foi salários elevados, status social de prestígio e a ideia cultural de que “engenheiro nunca fica desempregado”, sim, não sei como é nessa nova geração, mas na minha época engenharia era profissão de prestígio, meio que como ainda é medicina hoje.
Fase 2: Massificação do ensino
Com o crescimento da demanda, o mercado educacional viu uma oportunidade e teve que acompanhar esse ritmo, pois estavam faltando engenheiros, então vamos ganhar dinheiro, logo houve uma explosão de faculdades privadas, cursos noturnos acessíveis, ensino a distância, currículos sendo diluídos e marketing agressivo prometendo ascensão social garantida. Formar engenheiros deixou de ser um processo longo e seletivo para se tornar algo rápido, barato e escalável, então o acesso foi democratizado, mas a qualidade média caiu.
Fase 3: Saturação e desvalorização
Alguns anos depois, o número de formados superou em muito a demanda real do mercado. O diploma que antes abria portas virou apenas um requisito mínimo entre centenas de candidatos idênticos, salários médios caíram, começou aquele meme do engenheiro que será uber e a narrativa do “emprego garantido” desmoronou.
Então o mercado deixou de pagar pelo título acadêmico e passou a valorizar apenas a competência real, que continua sendo rara e importante.
O caso atual da área de desenvolvimento de software
O mercado de tecnologia oferece um exemplo quase em tempo real desse ciclo.
Durante a pandemia, houve um período de demanda artificialmente inflada. A digitalização forçada de empresas, o crescimento explosivo de startups, juros baixos e capital abundante criaram uma necessidade urgente por desenvolvedores.
Nesse contexto excepcional, parecia que qualquer pessoa que fizesse um bootcamp de três meses conseguiria emprego rapidamente. A oferta não acompanhava a demanda e os salários subiram de forma acelerada.
Como sempre acontece, esse movimento acionou o sistema educacional e o marketing de carreira. Surgiram centenas de cursos online, bootcamps intensivos e promessas de transição rápida de carreira. A narrativa era de “escassez permanente de programadores” e “emprego garantido em seis meses”.
Passada a fase excepcional da pandemia, o mercado começou a se estabilizar. A demanda voltou a níveis mais realistas enquanto a oferta de profissionais continuou crescendo exponencialmente.
O resultado foi um ajuste natural e doloroso para muitos. Menos contratações da forma indiscriminada de como estavam sendo, critérios técnicos mais rigorosos, exigência real de experiência e projetos comprovados, e foco em qualidade, manutenção e eficiência comprovada.
Pessoal, o que quero dizer, e é importante perceber que esse tipo de fenômeno acontece em todas as profissões. Direito, administração, marketing, design, psicologia, educação. Sempre que uma área se valoriza, o ensino se massifica, o acesso se facilita demais e a oferta cresce mais rápido que a demanda real, o valor médio dessa profissão cai.
Não é uma crise específica de uma área. É oferta e demanda em ação. Não estou dizendo que concordo ou discordo, é apenas uma observação de um fenômeno mercadológico que acontece, quer você queira ou não.
A ilusão do diploma como garantia
Acredito que o diploma é importante, a minha formação superior me abriu portas e me trouxe conhecimentos valiosos, não só educacionais, mas em outras áreas da minha vida, porém ele não é garantia de sucesso, o diploma funcionou por um período como filtro eficiente de escassez em um período onde poucas pessoas tinham acesso ao ensino superior, quando esse filtro enfraquece porque milhões de pessoas possuem diplomas semelhantes, o mercado naturalmente cria novos critérios de seleção como experiência prática e capacidade real de execução, além de diversas outras habilidades que compõem um bom profissional, e isso inserido em um contexto de aquecimento de mercado ou não da área em questão que são refletidos também nessa equação.
Então por que você ao invés de reclamar que se formou e não tem emprego, que te venderam uma ilusão a vida toda, achando que apenas um pedaço de papel seria suficiente, voce não procura entender como funcionam as leis e dinâmicas do mercado e se adequa a ela e ganha vantagem competitiva? ao invés de reclamar, busque ser um PROFISSIONAL FODA, busque ser o melhor e mais raro. Em engenharia, tecnologia ou qualquer área, diploma é importante, porém não garante nada, competência rara garante.
